sexta-feira, 14 de agosto de 2015



OTÁVIO BONFIM E SEUS
PERSONAGENS FOLCLÓRICOS.
 
Alguns tipos folclóricos e pitorescos do Otávio Bonfim, que foram motivo de gozação e de brincadeiras em um tempo que tudo era possível, onde um apelido era uma coisa normal. Hoje quando tudo e motivo de protestos, vale relembrar os personagens popular do saudoso bairro Otávio Bonfim”.
Durante sua existência, o tradicional bairro de Otávio Bonfim localizado próximo ao centro de Fortaleza, teve alguns “tipos” que foram agregados a sua história folclórica durante seu inicio de formação. Eles foram agregados e constituídos motivo de gozação e de brincadeiras entre meninos e adolescentes do saudoso bairro Otavio Bonfim, hoje bairro Faria Brito. Dentre esses personagens, encontramos uma mulher chamada pela meninada de Porronca – vivia perambulando pelas ruas do bairro, era “desaforenta”, andava em trajes molambudos, cabelos em desalinho e repletos de piolhos; exalava um mau cheiro, proveniente da sua total falta de banho e asseio corporal. Quando ela encontrava um grupo de meninos era uma “gaiatice! Eles a chamava de Porronca, ela de pronto chingava suas mães, enquanto os meninos em coro gritavam sem para seu apelido, ela levantava as vestes, expondo suas partes intimas, razão maior do divertimento da molecada mal-educado.
Outro personagem muito conhecido no bairro era outra mulher muito franzina, que perambulava pela praça da igreja de Nossa Senhora das Dores, presença constante na fila do Pão de Santo Antonio distribuído as terças-feiras pelos frades franciscanos. Seu apelido batizado pela molecada provinha de um cisto de glândula salivar, localizado no rosto, que conferia uma aparência de quem está com um caroço de macaúba na boca. Quando a meninada gritava “macaúba, macaúba, macaúba”, ela respondia com palavrões chulos, e jogava pedras sobre a meninada que saía em debandada, em plena gargalhada, para em seguida, se juntarem em uma nova investida contra a personagem insultando-a, ate que alguns adolescentes acabassem com a brincadeira.
Os moradores mais antigos talvez se lembrem de outro personagem, muito interessante que perambulava pela redondeza e sempre despertava curiosidade das pessoas. Ele era chamado de “Scania”, ele colocava um espelho de retrovisor nos ombros e saia andando como se fosse um caminhão, reproduzia, com a boca, o som de um veículo pesado. Com a mão dava inicio as marchas de aceleração, freava, produziam sons de buzina.
Em meados dos anos 70, apareceu no bairro uma mulher muito fogosa chamada de Odete Batalhão, sua residência ficava nas ruelas do beco dos pintos. Responsável pela iniciação sexual de alguns adolescentes da redondeza, a Odete tinha uma vocação exacerbada para pedofilia, não raras vezes sua casa era sempre repleta de garotos em busca de guloseimas, doces feitos pela própria para distribuir entre a meninada das circunvizinhança.  
Outra figura cômica para não chama de doida, era a “Maria Locomotiva”, uma mulher magricela que perambulava sempre perto do trilho. Nos horários da aproximação do trem que vinha da estação João Felipe com destino a Parangaba, ela ficava próximo do muro da saudosa fabrica Siqueira Gurgel, quando a locomotiva ficava paralelo ao muro da fabrica ela começava a correr ao lado da mesma em direção a estação do Otávio Bonfim, imitando o apito do trem, parando na estação, quando o trem saia, ela acompanhava o mesmo sempre correndo ate sumir para o lado da Av. Zé Bastos.
Hoje passados vários anos, muita coisa mudou, a Estação do Otavio Bonfim não existe mais, os trilhos que outrora passava os trens sumirão dando lugar ao asfalto. Os adolescentes cresceram tornaram-se chefe de famílias, e seus filhos já não brincam mais como seus pais brincavam, com certa naturalidade. Com o passar dos anos, foi-se adquirindo mais respeito com as minorias sócias, os direitos humanos são preservados. Os apelidos tão banais, no meu tempo de estudante do Liceu, já não existem, as brincadeiras em apelidar o povo bem ao estilo cearense, tão bem descrito em “Anedotas do Quintino” e “Ceará Gaiato” do saudoso Quintino Cunha são esquecidos pelas novas gerações. Hoje, apelidar, humilhar, gozar, discriminar, assediar, aterrorizar e todas as formas intencionais ou não, que as pessoas cometem contra as outras são denominadas de Bullying.     
Valentim Santos
Professor, Historiado e Sociólogo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário