segunda-feira, 27 de junho de 2011

Alguns tipos folclóricos e pitorescos do Otavio Bomfim

Durante sua existência, o tradicional bairro do Otávio Bonfim localizado próximo ao centro de Fortaleza, teve alguns “tipos” que foram agregados a sua história folclórica durante seu início de formação. Eles foram agregados e constituídos motivo de gozações e de brincadeiras entre meninos e adolescentes do saudoso bairro Otávio Bonfim, hoje bairro Farias Brito. Dentre esses personagens, encontramos uma mulher chamada pela meninada de Porronca – vivia perambulando pelas ruas do bairro, era “desaforenta”, andava em trajes “molambudos”, cabelos em desalinho e repletos de piolhos; exalava mau cheiro, proveniente da sua total falta de banho e asseio corporal. Quando ela encontrava um grupo de meninos era uma “gaiatice”, eles a chamavam de Porronca, e ela de pronto xingava suas mães, enquanto os meninos em coro gritavam  seu apelido sem parar, ela levantava as vestes, sem calcinha, expondo suas partes íntimas, razão maior do divertimento da molecada mal educada.
Outro personagem muito conhecido no bairro era outra mulher muito franzina, que perambulava pela praça da igreja de Nossa Senhora das Dores, presença constante na fila do Pão de Santo Antônio distribuído às terças-feiras pelos frades franciscanos. Seu apelido batizado pela molecada provinha de um cisto de glândula salivar, localizado no rosto, que conferia uma aparência de quem está com um caroço de macaúba na boca. Quando a meninada gritava “macaúba, macaúba, macaúba”, ela respondia com palavrões chulos, e jogava pedras sobre a meninada, que saía em debandada, em plena gargalhada, para em seguida, se juntarem em uma nova investida contra a personagem insultando-a, até que alguns adolescentes acabassem com a brincadeira.
Os moradores mais antigos talvez se lembrem de outro personagem, muito interessante que perambulava pela redondeza e sempre despertava a curiosidade das pessoas. Ele era chamado de “Scania”, ele colocava um espelho de retrovisor nos ombros e saia andando como se fosse um caminhão, reproduzia, com a boca, o som de um veículo pesado. Com a mão dava início às machas de aceleração, freava e produzia sons de buzinas. Em meados dos anos 70, apareceu no bairro uma mulher muito fogosa chamada de Odethe Batalhão, sua residência ficava nas ruelas do beco dos pintos. Responsável pela iniciação sexual de alguns adolescentes da redondeza, a Odethe tinha uma vocação exacerbada para pedofilia, não raras vezes sua casa era sempre repleta de garotos em busca de guloseimas, doces feitos pela própria para distribuir entre a meninada das circunvizinhanças.  
Outra figura cômica para não chamar de doida, era a “Maria Locomotiva”, uma mulher magricela que perambulava sempre perto do trilho. Nos horários da aproximação do trem que vinha da estação João Felipe com destino a Parangaba, ela ficava próximo do muro da saudosa fábrica Siqueira Gurgel, quando a locomotiva ficava paralela ao muro da fábrica ela começava a correr ao lado da mesma em direção a estação do Otávio Bonfim, imitando o apito do trem, parando na estação, e quando o trem saia, ela acompanhava o mesmo sempre correndo até sumir para o lado da Av. Zé Bastos. Hoje, passados vários anos, muita coisa mudou, os adolescentes cresceram tornaram-se chefes de famílias, e seus filhos já não brincam mais como seus pais brincavam, com certa naturalidade. Com o passar dos anos, foi-se adquirindo mais respeito com as minorias sociais, os direitos humanos são preservados. Os apelidos tão banais, no meu tempo de estudante do Liceu, já não existem, as brincadeiras em apelidar o povo bem ao estilo cearense, tão bem descrito em “Anedotas do Quintino” e “Ceará Gaiato” do saudoso Quintino Cunha são esquecidos pelas novas gerações. Hoje, apelidar, humilhar, gozar, discriminar, assediar, aterrorizar e todas as formas, intencionais ou não, que as pessoas cometem contra as outras são denominadas de Bullying.  

Valentim Santos
Professor, Historiador e Sociólogo

RESSURGIMENTOS DAS ETNIAS INDÍGENAS NO CEARÁ


Não existem documentos ou fontes documentais sobre a existência de quantas etnias havia nem a quantidade de índios presentes nas terras cearenses, antes da chegada do primeiro europeu a pisar na praia do Mucuripe em 1 de janeiro de 1500. As etnias nativas foram sofrendo um lento genocídio praticado pelos colonizadores europeus e depois pelos próprios brasileiros. As etnias que conseguiram sobreviver até hoje, ainda são vítimas de preconceito e discriminação por parte dos seus colonizadores.
       Outro fator preponderante para o extermínio cultural dos índios foi à catequização realizada pelos jesuítas. O contato permanente com a civilização fez com que eles perdessem traços de sua cultura e foram se miscigenando com os colonizadores brancos.
       Os índios cearenses tiveram sua extinção decretada em 9 de outubro de 1863 pelo governador da província, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, através de um decreto provincial declarando a extinção oficial dos índios e quem quer que fosse declarado descendentes dos mesmos. Isto levou  muitos índios a esconderem suas origens e de suas futuras gerações, com isso suas identificações ficaram desconhecidas nos registros antropológicos.
       Com a criação do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) criado no governo de Getulio Vargas, depois denominada de FUNAI (Fundação Nacional dos Índios) e seu trabalho em defesa dos povos indígenas nacional, juntamente com a Igreja católica através da pastoral indígenas, surgiram na década de 80 estudos antropológicos comprovando a existência de etnias indígenas nas terras cearenses.  A primeira delas a ser identificada foram a etnias dos remanescentes dos índios Tapeba, localizada no município de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza que se originou de um aldeamento em meados de 1741. Depois outras etnias buscaram o reconhecimento de suas identidades étnicas e a posse do seu território desapropriada pelo governo provincial.
       Atualmente as etnias cearenses estão se articulando, e graça a seus esforços estão conseguindo o reconhecimento, a demarcação de suas terras e o respeito dos seus colonizadores, como os verdadeiros habitantes deste contingente latino americano.
       No estado do Ceará existem mais de doze etnias indígenas oficialmente, e algumas em estudo antropológico, aguardando parecer da FUNAI, entre elas citamos:
 
1º- TAPEBA. MUNICÍPIO: Caucaia. POPULAÇÃO: 5.500 pessoas. SITUAÇÃO: Delimitadas e identificadas. Aguardando resposta da FUNAI.

2º- TREMEMBÉ. MUNICÍPIO: Itarema, Acaraú e Itapipoca: POPULAÇÃO: 4.820 pessoas. SITUAÇÃO: Indefinida.
3º- PITAGURY. MUNICÍPIO: Maracanaú e Pacatuba. POPULAÇÃO: 2.800 pessoas. SITUAÇÃO: Em processo de demarcação física, por parte da FUNAI.

4º-JENIPAPO-KENINDÉ. MUNICÍPIO: Aquiraz. POPULAÇÃO: 290 PESSOAS. SITUAÇÃO: Delineada e identificada, aguardando resposta por parte da FUNAI. Mas em contestação.

5º KANINDÉ. MUNICÍPIO: Aratuba e Canindé. POPULAÇÃO: 700 pessoas: SITUAÇÃO: Com visita preliminar, realizada pela FUNAI entre 2003-2004. Aguardando procedimentos inicias de fundamentação antropológica.

6º-POTYGUARA/POTIGUARA: MUNICÍPIO: Crateús, Monsenhor Tabosa, Novo Oriente e Tamboril: POPULAÇÃO: 1.000 pessoas: SITUAÇÃO: 1º Potyguara de Mundo Novo e Viração: realizado estudo de fundamentação, aguardando parecer; 2º POTIGUARA de Crateús e Novo Oriente: realizada visita preliminares pela FUNAI; 3º POTIGURA Nazário, Monte Nebo e São José: ainda não estudado pela FUNAI.

7º-TABAJARA: MUNICÍPIO: Crateús, Monsenhor Tabosa, Poranga, Quiterianópolis e Tamboril: FAMÍLIA: 559 pessoas. SITUAÇÃO; Com estudos preliminares feito pela FUNAI..

8º-KALABAÇO: MUNICÍPIO: Crateús e Poranga.família: 340 pessoas: SITAÇÃO: Com estudos preliminares realizado pela FUNAI em 2005,aguardando resultados.

9º-KARIRI: MUNICÍPIO: Crateús, Crato. POPULAÇÃO: 160 pessoas: SITUAÇÃO: Com visitas preliminares realizada recentemente pela FUNAI.

10º ANACÉ: MUNICÍPIO: São Gonçalo do Amarante e Caucaia. POPULAÇÃO: 1.270 pessoas: FAMÍLIAS: 380 Pessoas. SITAÇÃO: Esta etnia encontra-se a ser identificada pela FUNAI.

11º-GAVIÃO: MUNICÍPIO: Monsenhor Tabosa: POPULAÇÃO ESTIMADA: 190 pessoas; FAMÍLIA: 20 pessoas: SITUAÇÃO: Com visitas realizadas pelo departamento de Antropologia da FUNAI.
12º: TAPIBA/TAPUIA: MUNICÍPIO: Monsenhor Tabosa. FAMILIA: 30 pessoas. SITUAÇÃO: Estudos feitos de fundamentação, aguardado parecer da FUNAI.

Fontes: Povos indígenas no Ceará: organização, memória e luta da cultura cearense, do Centro do Dragão do Mar de Arte e Cultura/2008. Centro de Preservação e Memória Historiador Antonio Bezerra.

Valentim Santos
Professor, Historiador e Sociólogo

TUCUNDUBA UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE CAUCAIA.


A Cidade de Caucaia é uma cidade que, praticamente, não tem o hábito de preservar sua memória histórica. Além de não ser rica em monumentos arquitetônicos, como em outros centros urbanos. No centro da cidade, existem alguns prédios que se destacam pela sua beleza arquitetônica, são marcos de referências históricas do início de sua colonização. Como, por exemplo, a Igreja matriz construída no século XVI, o prédio da atual Biblioteca construído na metade do século XVIII além do Cruzeiro localizado enfrente a Igreja matriz construído em 1749.
 
O Patrimônio histórico do município de Caucaia não está somente nos livros e fotos, está nos prédios e monumentos que são testemunha ocular de uma cidade que cresce rapidamente, mas que deixa vestígio do seu passado, sendo hoje aceito e admirado por todos.
Poucas pessoas sabem, mas existe um Patrimônio Histórico arquitetônico natural localizado no município de Caucaia, situado na serra da Tucunduba, o referido está localizado a 22 km da sede do município, com uma população estimada em  mais de 10 mil pessoas. 
A colonização da serra de Tucunduba surgiu em meados do século XVIII quando surgiram os primeiros agrupamentos de casas construídas em taipas que foram sendo substituídas por tijolos rebocadas de cal, que permanece até o presente momento.
Localizado entre serra, paisagem e lagoa, está o distrito de Tucunduba ou vila de Tucunduba como é mais conhecido, por seus moradores. Para seus habitantes o tempo parou, os avanços tecnológicos, a violência e, o corre corre das grandes metrópoles parecem distantes de sua vida pacata e silenciosa.
Na sede do distrito encontramos várias casas enfileiradas, com portas e janelas sempre iguais, ou grandes casas com alpendres, colunas e compartimentos repletos de histórias de gerações a geração.
O distrito de Tucunduba foi criado e designado através do Decreto municipal de nº 1.156 de 04 de dezembro de 1933, sua vila tem raízes históricas sua capela foi dedicada a Nossa Senhora de Santa’na, foi construída em 1860 através de doações da tradicional família Pontes Vieira.
Espero que o atual governo municipal possa resgatar a memória histórica cultural e socioambiental da área urbana do distrito, e que este patrimônio arquitetônico possa ser visto como uma atração turística.
Valentim Santos
Professor, Historiador e Sociólogo