OTÁVIO BONFIM E SEUS
PERSONAGENS FOLCLÓRICOS.
”Alguns tipos folclóricos e pitorescos do Otávio Bonfim, que foram
motivo de gozação e de brincadeiras em um tempo que tudo era possível, onde um
apelido era uma coisa normal. Hoje quando tudo e motivo de protestos, vale
relembrar os personagens popular do saudoso bairro Otávio Bonfim”.
Durante sua existência, o
tradicional bairro de Otávio Bonfim localizado próximo ao centro de Fortaleza,
teve alguns “tipos” que foram agregados a sua história folclórica durante seu
inicio de formação. Eles foram agregados e constituídos motivo de gozação e de
brincadeiras entre meninos e adolescentes do saudoso bairro Otavio Bonfim, hoje
bairro Faria Brito. Dentre esses personagens, encontramos uma mulher chamada
pela meninada de Porronca – vivia perambulando pelas ruas do bairro, era “desaforenta”,
andava em trajes molambudos, cabelos em desalinho e repletos de piolhos;
exalava um mau cheiro, proveniente da sua total falta de banho e asseio
corporal. Quando ela encontrava um grupo de meninos era uma “gaiatice! Eles a
chamava de Porronca, ela de pronto chingava suas mães, enquanto os meninos em
coro gritavam sem para seu apelido, ela levantava as vestes, expondo suas
partes intimas, razão maior do divertimento da molecada mal-educado.
Outro personagem muito
conhecido no bairro era outra mulher muito franzina, que perambulava pela praça
da igreja de Nossa Senhora das Dores, presença constante na fila do Pão de
Santo Antonio distribuído as terças-feiras pelos frades franciscanos. Seu apelido
batizado pela molecada provinha de um cisto de glândula salivar, localizado no
rosto, que conferia uma aparência de quem está com um caroço de macaúba na
boca. Quando a meninada gritava “macaúba, macaúba, macaúba”, ela respondia com
palavrões chulos, e jogava pedras sobre a meninada que saía em debandada, em plena
gargalhada, para em seguida, se juntarem em uma nova investida contra a
personagem insultando-a, ate que alguns adolescentes acabassem com a
brincadeira.
Os moradores mais antigos
talvez se lembrem de outro personagem, muito interessante que perambulava pela redondeza
e sempre despertava curiosidade das pessoas. Ele era chamado de “Scania”, ele
colocava um espelho de retrovisor nos ombros e saia andando como se fosse um
caminhão, reproduzia, com a boca, o som de um veículo pesado. Com a mão dava
inicio as marchas de aceleração, freava, produziam sons de buzina.
Em meados dos anos 70,
apareceu no bairro uma mulher muito fogosa chamada de Odete Batalhão, sua
residência ficava nas ruelas do beco dos pintos. Responsável pela iniciação
sexual de alguns adolescentes da redondeza, a Odete tinha uma vocação
exacerbada para pedofilia, não raras vezes sua casa era sempre repleta de
garotos em busca de guloseimas, doces feitos pela própria para distribuir entre
a meninada das circunvizinhança.
Outra
figura cômica para não chama de doida, era a “Maria Locomotiva”, uma mulher
magricela que perambulava sempre perto do trilho. Nos horários da aproximação
do trem que vinha da estação João Felipe com destino a Parangaba, ela ficava
próximo do muro da saudosa fabrica Siqueira Gurgel, quando a locomotiva ficava
paralelo ao muro da fabrica ela começava a correr ao lado da mesma em direção a
estação do Otávio Bonfim, imitando o apito do trem, parando na estação, quando
o trem saia, ela acompanhava o mesmo sempre correndo ate sumir para o lado da Av.
Zé Bastos.
Hoje passados vários anos,
muita coisa mudou, a Estação do Otavio Bonfim não existe mais, os trilhos que outrora
passava os trens sumirão dando lugar ao asfalto. Os adolescentes cresceram tornaram-se
chefe de famílias, e seus filhos já não brincam mais como seus pais brincavam,
com certa naturalidade. Com o passar dos anos, foi-se adquirindo mais respeito com
as minorias sócias, os direitos humanos são preservados. Os apelidos tão
banais, no meu tempo de estudante do Liceu, já não existem, as brincadeiras em
apelidar o povo bem ao estilo cearense, tão bem descrito em “Anedotas do
Quintino” e “Ceará Gaiato” do saudoso Quintino Cunha são esquecidos pelas novas
gerações. Hoje, apelidar, humilhar, gozar, discriminar, assediar, aterrorizar e
todas as formas intencionais ou não, que as pessoas cometem contra as outras
são denominadas de Bullying.
Valentim Santos
Professor, Historiado e Sociólogo.