terça-feira, 30 de agosto de 2011



BODEGAS QUE RESISTEM AO TEMPO.
 
Bodega tipo adega do interior cearense.
   As bodegas podem ser consideradas como uma pequena venda de produtos secos e molhados, sua etimologia vem do latim apothéca, lugar onde guardam comestíveis, e do grego apothêke, deposito, armazém, adega, taberna.  As bodegas são de origem milenar e possuem sua origem difusa. Nascidas no oriente persa provêm dos primeiros bazares ambulantes que acompanhavam os exércitos nas cruzadas. Os mercadores geralmente tinham quase tudo que a população precisava. Eram nas bodegas cearenses, pernambucanos, alagoanas e paraibanas, que o Capitão Ferreira Virgulino, mas conhecido como “Lampião”, infiltrava espiões para ouvir conversas e sondar as andanças das volantes policias. Ninguém poderia imaginar que um cego ou aleijado, seria os agentes secretos de Lampião. Os mesmos ficavam nas bodegas a ouvir conversas e mexericos que eram repassados prontamente para o cangaceiro. 
  
  Bodega e alegria. 
O comércio das bodegas ainda resistiram como atividade comercial, não só em Fortaleza, mas em todo o interior do estado. Com a variedade de produtos que começaram a ser comercializados, passaram a se denominar de mercadinhos e com a sua expansão física transformaram-se em embriões dos grandes supermercados. Muitos proprietários desses supermercados hoje são advindos dos pequenos comércios que eram as bodegas de outrora uma época bem recente.

As bodegas fazem parte de nossa história e falar nelas é mergulhar no tempo nostálgico, é reviver fatos de nossos antepassados. Basta fecharmos os olhos para lembramos imagens que ficaram perdidas no tempo. “Quando eu era menino, meu pai me levava para a bodega Azul do seu Raimundo Nonato. Lá, eu saboreava pão de côco com refresco de Cajá e saboreava os tijolinhos de goiaba. Lembro-me da final da copa do mundo de 1962, quando o Brasil foi bicampeão de futebol. Nós estávamos na bodega Brasília do Senhor Djacir, todos reunidos para ouvir o jogo, pois como naquela época não existia televisão, a moda era ouvir radio, lá existia dois rádios “de marca Sempre” a bateria, um em cada lado do balcão.” Nos relembra, Almir Cordeiro Filho, ex-atleta do Ferroviário e funcionário do frotinha, que se emociona ao falar sobre sua infância nas bodegas do bairro.

Bodega subida do Horto - Juazeiro -Cé
 Existe um relacionamento pessoal de cada bodegueiro com a comunidade onde um dos vínculos existente é a velha caderneta, onde comerciante e freguês controlam a venda dos produtos fiados. A hora de fazer compras na bodega é um momento de interação entre as pessoas que se reúnem naquele lugar e nas conversas umas com as outras são trocadas receitas de remédio para curar doenças, receitas de bolos, são dados conselhos sobre alguns problemas que um dos fregueses esteja passando e, é também o momento e o lugar onde se sabe quem casou quem se separou quem foi preso, quem morreu quem nasceu quem passou no vestibular, quem levou chifes, quem esta desempregado, quem compra e não paga, em fim sabe-se da vida dos moradores das redondezas.
Bodega comercial.
     A bodega é o espaço livre que se transforma na dispensa da casa do pobre. O dente de alho, o pacote de arroz, a garrafa de manteiga estão, disputando o mesmo espaço, com canos, torneiras, alicates, serrotes, uma variedade de mercadorias que satisfazem a clientela no preço, no prazo e, sobretudo, no atendimento personalizado a cada cliente. Lembro-me da bodega do seu Pergentino, seu comercio era uma autentica farmacopeia cearense, lá ele fabricava uma garrafada batizada por chá de pobre, dentro dela tinha cascas de embiriba, jatobá, tipi, camela, Tinha folhas de louro, boldo, manjericão, arruda. Raiz de carnaúba, pega pinto, tudo colocado dentro das garrafas prontas para o consumo imediato. Seu Pergentino dizia que servia para curar gripe, resfriado, coqueluche, tosse braba e dor de cabeça, além da tradicional dor de chifes.

Elas registre ao tempo.
Uma bodega que não sai da minha memória é a do Senhor Manuel da Padaria, que ficava na rua Manuel Soares, antigo beco da Estação ferroviária. Lá tinha tudo que uma dona de casa pudesse precisar: sabão pavão, gordura de côco, goma, farinha, pimenta do reino, cordas, toucinho de porco salgado, lamparinas, querosene a granel, manteiga, pão sovado entre outras coisas indispensável àquela época, em pequena quantidade, pois poucas pessoas compravam em grande quantidade como hoje. 
        
 No interior Cearense as poucas bodegas que ainda registem, principalmente na região do Cariri estão dando lugar as mercearias, mercantis e supermercados que superlotam as cidades do Interior cearense. Na cidade do Crato existe uma bodega conhecida como “bodega do Joquinha”. Lá por incrível que pareça, qualquer pessoa pode tomar banho. Banho com uma lata d´água, com direito a um pedaço de sabão, preço tabelado vai de R$ 2,oo a 5,oo reais.
  
Bodega Caldeira do Inferno - Brejo Santos - Cé.
  Na contramão da ordem natural do comércio, que transforma pequena venda em bodega, existe na cidade de Brejo Santo, uma bodega que seguiu o caminha de volta no tempo, e a Internacional bodega “Caldeira do Inferno”,  ela pertence ao Chico Sinésio que pretende comemorar o centenário da mesma com uma festa entre amigos. Ele explica que o nome Caldeira do Inferno não tem sentido profano. Ela e um ponto de encontro de amigos, políticos, aposentados, empresários, boêmios e transeuntes. Uma caldeira de ideias dos filhos e amigos da cidade de Brejo Santo. Nesta bodega não existe a figura do bodegueiro, ele gosta de ser chamado de “cão chefe da caldeira”.  
 
Homenagem a todos Bodegueiros. Chico Sinésio.
 Como podemos esquecer estes pequenos comércios de portas estreitas ou largas que resistem ao tempo com sua cultura e suas tradições? Como podemos esquecer-nos das bodegas da minha infância?. Como seu Pergentino, seu Antônio Nonato da “bodega azul”, seu Antônio Carolino, Luiz Padeiro, Djacir, Manoel da Padaria. Não podemos esquecer uma das primeiras do bairro a do Senhor Antonio Ramos, localizado na Rua Joaquim Leitão com José Leite Gondin. A do Franca Pinheiro, dona Mel( recem falecida) e outras tantas bodegas que fizeram parte da história comercial do nosso Barro Vermelho e hoje fazem parte da história do bairro Antonio Bezerra.
 Valentim Santos
                                                          Professor, Historiador e Sociólogo

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


                                LEMBRANÇAS DE UM PASSADO VIVO.


            A história de Fortaleza não está somente nos livros e fotos, está nas ruas, prédios e monumentos. Passando pelas ruas de Fortaleza, deparamos com vários prédios antigos, abandonados e esquecidos, quem parar vai vê que eles têm um valor histórico, cultural e artístico notável.
Eles estão firmes, enfrentando o a indiferença das pessoas, mas , mesmo assim, permanecem como testemunha ocular de uma Fortaleza que, durante décadas tiveram importância na história social, política e econômica desta cidade.
Estação João Felipe. Praça Castro Carreira - Fortaleza.
 Hoje, eles permanecem vivos, contando a história da capital cearense. Não é possível, saber o futuro de uma cidade, mas se pode imaginar como foi no seu passado. Por exemplo, podemos imaginar como era o Palacete Carvalho Mota, Palacete Brasil, San Pedro Hotel, Palácio da Luz, Excelsior Hotel entre outros. São alguns dos prédios localizados no centro de Fortaleza, que, durante anos tiveram importância na história política social desta cidade.
Hoje, esses monumentos estão desativados. A maioria deles está com suas estruturas físicas danificadas.
Conhecendo o passado, pode-se descobrir que, constitui-se um crime contra o patrimônio público o que aconteceu com o prédio do Centro Artístico Cearense. Localizado na esquina da Av. Duque de Caxias com Av. Tristão Gonçalves, centro, fundado em 1904, e tombado pela Lei Municipal nº 63 de 18 de junho de 1988. Foi demolido na calada da noite, indo ao chão não somente um prédio qualquer, mas 107 anos de história, arte da música e cultura cearense.

Palacete do Pastro - Praça do Ferreira i Fortaleza.
 No futuro, o que vai restar do nosso passado patrimonial? Como vamos contar para os nossos filhos e netos a história patrimonial de nossa cidade?.
Registrando e tentando mostrar a dura realidade destes fatos mencionados, é que chamamos a atenção, antes que desapareçam das lembranças do passado. Pois através de fotos dos principais prédios e monumentos históricos de Fortaleza, ainda restam um passado nostálgico,  uns abandonados, outros recuperados, mas ambos cheios de história para serem vistos e admirados.
Palacete Comendador Ananias - Instituto do Ceará.
      
Muitos lutam contra as especulações imobiliárias, poluição e degradação ambiental. Mas, suas estruturas arquitetônicas estão se mantendo erguidas e imponentes. Representando orgulho e tradição, para seus proprietários. Para que exista o presente temos que conservar o passado.
Felizmente 20 monumentos não foram totalmente destruídos, estão conservados e tombados, entre eles: “TEATRO JOSE DE ALENCAR, (localizado na Praça José de Alencar); PALÁCIO DA LUZ (localizado na Praça General Tiburcio,); PALACETE DO BANCO FROTA GENTIL (Localizado na rua Floriano Peixoto); PALACETE SENADOR ALENCAR (Localizado na rua Senador Alencar); CASA DE JUVENAL GALENO (localizado na rua General Sampaio); PRÉDIO DOS BORIS (Localizado na rua Boris); PALACETE BRASIL ( localizado na rua General Bezerril); SOBRADO DO POSTOR (Localizado na rua Major Facundo); PALACETE DOS GENTIL (Localizado na av. 13 de maio, prédio da reitoria); e SOBRADO DO SENADOR FERNENDES VIERIA. (Localizado na rua Floriano Peixoto), entre outros. 

Escola: Jesus, Maria e José - Centro.   




                                                  
 Muitos se encontram em péssimo estado de conservação e já perderam até as características que os tornaram patrimônio histórico, como a antiga escola Jesus, Maria e José, localizada na rua Coronel Ferraz centro de Fortaleza. Esse prédio, que pertence á Arquidiocese de Fortaleza, foi tombado, mas nunca foi recuperado.  Além de outros que foram destruídos impiedosamente, entre eles, a casa de Rodolfo Teófilo, casa de Dom Helder Câmera, casa do Barão de Studart e Palácio do Plácido. Recentemente a Prefeitura de Fortaleza decretou o tombou da casa onde morou Frei Tito de Alencar, localizado na Rua Rodrigues Júnior.

Hotel do Norte. Praça dos Marteres -Centro.
E preciso chamar a atenção do poder público para o abandono em que se encontram alguns edifícios de grande valor histórico e cultural, que estão sendo destruídos por falta de conservação, porém, permanecem vivos, contando a história da capital cearense. 
                                     
Excelso Hotel - Centro.
PRESERVE ANTES QUE SEJAM COMPLETAMENTE DESTRUÍDOS E FIQUEM SOMENTE NAS FOTOS COMO LEMBRANÇAS.

Valentim Santos.
Professor, Historiador e Sociólogo

sábado, 6 de agosto de 2011

ORIGEM DAS FEIRAS
da Idade média a era moderna.

 Em todas as cidades do interior e alguns bairros das metrópoles existe uma feira livre de comércio, com dias determinados onde as pessoas se reúnem para comprar ou vender. São momentos festivos onde todos, independentes de sexo, cor ou religião, aproveitam como momento de distração.

Feira de Baturité - Ce. Frutas
     Sua origem é milenar. A primeira referencia citada sobre a feira esta na Bíblia, onde o salmista Marcos (11:17) descreve a fúria de Jesus Cristo ao entrar no templo em Jerusalém. Jesus  encontrou uma autêntica feira livre onde os cambistas vendiam e compravam; derrubou as mesas e os banco dos vendedores de pombos, e não permitiu que se vendessem qualquer objeto no templo. Porque ali era casa de orações e não feiras livres.Verifica-se a existência já naquele período histórico, a presença de comerciantes em determinados locais para comercializar.
 
Feira Medieval
                               
 Não sabemos ao certo onde ou quando foram realizadas as primeiras feiras comerciais na História. Existem fontes, onde podemos afirmar que, em 500 a.C. já se realizava essas atividades comerciais. Na Idade Média, notadamente na cidade da Fenícia, existem vestígios da existência de feiras onde se negociavam produtos comerciais, provenientes das novas rotas marítimas, pois os fenícios dominaram todo o comércio no continente mediterrâneo.
A etimologia da palavra feira vem do latim “feria” que significa “dia santo ou feriado”. No inicio da era cristã os camponeses negociavam seus excedentes comerciais nos pontos de maior movimentação do povoado ou em cidades que eram aos redores das igrejas, por ser um local de maior fluxo de pessoas. La eram negociados todos os produtos que a população necessitava.
No final do século XI, mas precisamente no declínio do sistema feudal, encontramos o crescimento das feiras medievais em toda a Europa, proveniente do surgimento de uma nova classe social ascendente que foram à burguesia.
Com a realização das Cruzadas e a ampliação do comércio marítimo no Mediterrâneo, os europeus puderam ter acesso aos produtos proveniente do Oriente, as mercadorias exóticas como o cravo, pimenta, seda e porcelana entre outros, passaram a ser comercializados em feiras. Eles surgiam nas cidades comerciais que se desenvolviam fora das muralhas dos núcleos urbanos primitivos chamados de burgos. Os burgos surgiram na baixa Idade Média, na época da decadência feudal.
Artesão, burgo baixa idade média.
  A feira medieval instalava-se em rotas comerciais que facilitavam aquisição de produtos entre caravanas migratórias. Nas feiras constantemente apareciam os saltimbancos e outros tipos de artistas mambembes, como músicos e cantores que procuravam atrair publico para suas apresentações, com o passar dos séculos ainda encontramos este tipo de manifestação cultural nas feiras de um modo geral.
No esplendor da era renascentista, o comércio nas feiras tornaram-se centros econômicos e demográficos. Tornando-se necessário a criação e uso de moedas que passaram a circular entre os comerciantes, com isto desenvolveu o surgimento de bancos e câmbios nas próprias feiras. 
 
Mercado Europeu.
  Com o crescimento populacional dos centros urbanos, surgia um novo tipo de comércio paralelo que foi o mercado. Originalmente o termo mercado era o local na qual os compradores e vendedores se encontravam para trocar e vendas de bens de consumo. Existiam os mercados genéricos e os especialistas onde uma só mercadoria era trocada, exemplo, mercado da carne, animais, etc. Qual seria a diferença entre mercado e feira? Leo Hubermam em História da riqueza do homem (1959),Editora,Zahar,1976.p.31,define que mercados eram pequenos comércios, negociados com os produtos locais, em sua maioria agrícola. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras precedentes do Oriente e Ocidente, Nordeste e Sul.

Feira periférica. Antonio Bezerra. Fortaleza
    No mundo moderno, as feiras livres ficam no segundo plano no contexto comercial, tendo em vista que, o que predomina hoje são os grandes e pequenos aglomerados chamados de supermercados. Eles substituem as feiras livres e até mesmo, o comércio natural da cidade, ao se considerar que tudo que se busque para o dia-a-dia do ser humano, encontra-se nos supermercados. Dentro deste complexo de comércio existem as subdivisões que funcionam como empresas individualizadas, com todas as funções próprias e independentes, trabalhando a sua própria realidade. 

Candidato em Campanha na Feira Livre.
  A feira exerce um fascínio nas pessoas, com sua magia secular, na forma de cultura arte e poesia, pois todas as formas de artes esta ligada a feira. Na própria literatura encontramos referência sobre ela, nós Fenícios, Egípcios, Romanos e Árabes. A feira não esta somente nas cidades, nem nós países do 3º mundo. Hoje ele continua vivo nos países mais evoluídos do 1º mundo. A feira e um templo onda aglomera todo tipo de pessoas, se observamos notamos que todos os freqüentadores estão sempre alegres, lá estão os pobres, ricos, religiosos, os políticos. A feira e uma forma de comunicação popular verdadeira, lá se sabem de tudo, escuta-se tudo, fala-se de tudo. Lá encontramos os mais variados tipos de comércio, se queremos qualquer coisa, e só procurar na feira, pois na certa vamos encontra.

VALENTIM SANTOS
Professor, Historiador e Sociólogo.