Foto do Excelsior -1935. |
As pessoas que circulam pela Rua Guilherme Rocha, esquina com a Rua Major Facundo, e olham para o lado direito onde está localizado o maior edifício de alvenaria do mundo, não sabem da história deste prédio que por muitos anos foi o Excelsior; o melhor hotel dos anos 30 e 40.
O prédio está localizado entre as ruas Guilherme Rocha e Major Facundo, centro de Fortaleza. No local onde existia o sobrado do Comendador José Antônio Machado, tinha três andares, sendo o mais alto e antigo da época. Este sobrado foi construído pelo engenheiro Coronel Conrrado de Niemeyer, lá funcionou o Hotel Central e o Café Ritch, um dos mais famosos da cidade, seus proprietários eram: Luís Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado Otacílio de Azevedo, o lugar era requentado por poetas, escritores e intelectuais da época, funcionou de 1913 a 1926.
Depois de sua demolição em 1927, deu lugar ao Hotel Excelsior, construído por Natali Rossi, pertencia ao comerciante Plácido de Carvalho, proprietário do Castelo do Plácido que ficava onde esta circunscrita hoje a Praça da CEART (Centro de Artesanato). Construído em estilo eclético foi o primeiro arranha-céu da cidade de Fortaleza e o primeiro exemplar de arquitetura hoteleira da época, entrando para a história como o primeiro hotel de nível Internacional da região Nordeste.
O Excelsior foi construído com alvenaria e argamassa com cal, pilares e viga de trilhos, tinha 8 andares e foi inaugurado em 31 de dezembro de 1931 com a presença de personalidades ilustres do estado. Com a morte de seu proprietário Plácido de Carvalho, ocorrida em 3 de junho de 1935, seu corpo foi velado no rol do próprio hotel, com isto o prédio ficou sendo administrado por sua esposa, Pierina Giovani Plácido, que em 1938’ casou-se com o arquiteto húngaro Emílio Hinko.
Entre seus mais famosos hóspedes podemos citar os cantores, norte – americano Bidu Saião e o tenor Tito Shipe, George Obrier, o Diretor Teatral Joracy Camargo, cantor das multidões Francisco Alves, Haroldo Silva, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, Pelé, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, alem de outros grandes nomes nacionais e internacionais.
No seu 7º andar funcionava o famoso bar Americano com sua paisagem de serra e sertão juntos formando uma imensa obra de arte. O terraço ficou Famoso pelas festas da alta sociedade, entre elas podemos destacar os famosos bailes de carnaval da época, que era chamado de “O CARNAVAL DO SÉTIMO CÉU”, como eram conhecido pela sociedade cearense. Este baile carnavalesco era tão famoso que neste período momino vinha pessoas de vários cantos do país para participar desta festa carnavalesca, onde o lança perfume, confetes, serpentinas, pierrô e colombinas tomava conta do 7º andar, tudo isto ao som das famosas orquestras, Tabajara, PRE-9 e Severino Araújo entre outras.
O hotel estava sempre lotado por comerciantes, artistas e visitantes com seus paletós brancos dando um ar nobre ao lugar transformando o velho Excelsior no maior ponto de encontro da época entrelaçado com a Praça do Ferreira.
Em 1957, Pierina falece e o prédio passa para seu marido Emilio Hinko, seu herdeiro. Em 1975, Emilio vai morar no hotel, ocupando o 4º andar onde realiza uma grande reforma no hotel, com a introdução de novas tecnologias como Televisão, aparelhos de ar condicionados, telefone e banheiros em todos seus quartos.
Fechado em 31 de dezembro de 1987, sob pretexto de reforma temporária, permanece assim até os dias de hoje. Depois de fechado permaneceu apenas com um hóspede, seu proprietário Emilio Hinko que morou no 4º andar até seu falecimento aos 101 anos em janeiro de 2002. A cidade de Fortaleza perde uma das últimas testemunhas de sua construção arquitetônica e da história viva do Excelsior. O prédio atualmente pertence ao sobrinho de Hinko, Jonas Fizesi.
Com sua morte, seu último hóspede foi embora deixando um vazio nos luxuosos quartos, ficando silencioso o velho Excelsior. O hotel continua imponente, lúcido com suas paredes repletas de histórias de um passado de luxo, beleza onde permanece vivo na lembrança de quem conheceu seus momentos de glória e esplendor como o seu Bessa, vendedor ambulante que há 47 anos esta instalado na entrado do Excelsior, ele fala com saudade da época de ouro; “ O Hotel estava sempre lotado com artistas,comerciantes, lembro das noitadas do Excelsior como se fosse hoje. Com a morte do seu proprietário tudo ficou ainda mais abandonado e hoje isso é uma solidão”
Hoje o saudoso Excelsior é utilizado pelo Clube Diretores Lojistas (CDL) para o Natal das Luzes, onde várias crianças ocupam as janelas dos seus quartos durante os finais de tarde do mês de dezembro. Não como hóspedes, mas sim para embelezar o velho e Excelsior, formando um coral infantil de 120 crianças que cantam músicas natalina para um público que durante várias horas voltaram seus olhares para o gigante adormecido.
Valentim Santos
Professor, Historiador e Sociólogo